Entendendo o filme "A Cruzada" - Ridley Scott

A frase "eu te revivi, eu te matarei" se encaixa perfeitamente no diretor Ridley Scott e seu filme histórico "Cruzada". Foi isso que Ridley Scott fez com o gênero de filmes históricos no ano 2000. Ele lançou "Gladiador", que se tornou um grande sucesso de bilheteria em todo o mundo.

Após "Gladiador", Ridley Scott deixou de ser considerado o principal fracassado de Hollywood e Russell Crowe se tornou instantaneamente uma superestrela, começando a receber 20 milhões de dólares por seus papéis. Depois de "Gladiador", Hollywood lançou vários filmes históricos caros a cada ano. Um épico com um orçamento superior a 100 milhões de dólares chegava aos cinemas. No entanto, o interesse do público por filmes históricos de grande escala não era tão alto quanto parecia com "Gladiador". Mesmo os financeiramente bem-sucedidos "Troia" e "O Último Samurai", que tinham orçamentos muito maiores do que "Gladiador", não conseguiram competir em termos de lucratividade com o filme de Ridley Scott. E se esses dois filmes conseguiram se sair bem nas bilheterias, então, ao lado deles, outras produções históricas de grande escala afundaram sem chances, resultando em perdas de centenas de milhões de dólares para os estúdios. "Rei Arthur" e "Alexandre", em 2004, se destacaram particularmente nesta área.

Em 2005, o próprio Ridley Scott retornou ao gênero. Embora Ridley tenha declarado várias vezes seu desejo de dirigir um grande filme sobre as cruzadas, o filme "Cruzada" surgiu em sua programação de forma completamente acidental, após o sucesso de "Gladiador". Ridley Scott tornou-se um grande diretor, todas as principais produtoras de Hollywood estavam dispostas a investir nele. Ridley teve escolha e oportunidades para promover suas ideias aos estúdios. Após dirigir "Falcão Negro em Perigo", Ridley Scott ficou interessado na Guerra de Trípoli, frequentemente chamada da primeira guerra dos Estados Unidos. O filme deveria contar a história do confronto entre os Estados Unidos e os estados norte-africanos do Magreb, que se dedicavam à pirataria nas águas do Mar Mediterrâneo no final do século XV e início do século XVII.

O início do paraíso dos piratas foi causado por Napoleão ao retirar de Malta a Ordem de Malta, que protegia a Europa dos corsários. Após obter sua independência, os Estados Unidos pagaram tributo aos piratas por algum tempo, assim como muitos estados europeus. Contudo, quando Thomas Jefferson assumiu o poder nos Estados Unidos, ele se recusou a continuar pagando tributos e enviou navios para o Mar Mediterrâneo. No início, a guerra local envolveu pequenos conflitos no mar, resultando em alguns navios americanos com velas rasgadas. Mas em 1805, os americanos ficaram cansados disso e, com o apoio de mercenários muçulmanos, tomaram a cidade estrategicamente importante de Derna por assalto, após o que os piratas rapidamente se renderam e buscaram a paz. O papel principal no filme deveria ser interpretado por Russell Crowe. O ator estava ansioso para montar um cavalo novamente e brandir uma espada. Em 2002, o filme quase entrou em produção e até começaram a construir cenários em Malta. Porém, o estúdio recuou no último minuto, sugerindo de alguma forma reduzir o orçamento, que estava rapidamente ultrapassando a marca de 150 milhões de dólares. Russell Crowe, desapontado, foi estrelar no filme "Mestre dos Mares", enquanto Ridley Scott foi dirigir um filme com Nicholas Cage.

Quando ambos os atores estavam disponíveis novamente, a ideia do filme foi revisitada. O estúdio já estava disposto a investir 150 milhões de dólares e eles começaram a construir cenários em Malta novamente. Desta vez, o fracasso de "Mestre dos Mares" atrapalhou tudo, como o novo filme de Ridley Scott envolveria batalhas navais, o estúdio entrou em pânico e encerrou o projeto de uma vez por todas. Foi aqui que "Cruzada" surgiu. O roteirista William Monahan, que trabalhou no roteiro da Guerra de Trípoli, sugeriu a Ridley Scott que lesse seu novo roteiro sobre as cruzadas. Os olhos de Scott, é claro, se iluminaram. Inicialmente, "Cruzada" não era um projeto tão caro quanto acabou sendo no final. O roteiro de Monahan era consideravelmente menor, mas mesmo esse roteiro, ao ser apresentado ao estúdio, foi reduzido ainda mais para que nenhum dos chefes do estúdio se assustasse com a duração gigantesca. Após examinar o roteiro, que começava com o despertar do protagonista na praia após um naufrágio, o estúdio decidiu arriscar. Assim que o roteiro foi aprovado, Monahan confessou a Ridley Scott que seu roteiro era, na verdade, muito mais impressionante e ele o havia reduzido com medo de que o estúdio certamente recusasse um filme de 4 horas. Ridley Scott não viu problemas em fazer um filme de 4 horas e disse a Monahan que ele poderia escrever um roteiro para um filme de 5 horas e Sir Ridley lidaria com o estúdio, se necessário.

Esta nuance está relacionada a um fato: como o início do filme foi incluído no roteiro no último momento, ninguém se preocupou com a conexão entre o roteiro original e sua versão expandida. Foi só na fase de edição, quando as filmagens já estavam concluídas há muito tempo, que se lembraram dessa conexão. Como resultado, as cenas do naufrágio foram adicionadas a "Cruzada" pouco antes do lançamento do filme. Algumas cenas com o navio foram rapidamente criadas nos estúdios de efeitos visuais, as cenas com a tempestade foram encontradas no arquivo de Ridley Scott, que continha cenas não usadas de seu filme "Tormenta". Algumas cenas com o personagem de Orlando Bloom foram montadas a partir de diferentes cenas já filmadas em Jerusalém e depois processadas digitalmente, por isso esse episódio no filme parece um pouco irregular.

Ridley Scott inicialmente planejou que Russell Crowe desempenhasse o papel principal em seu novo filme. No entanto, descobriu-se que Russell já havia assinado para interpretar o papel principal em "A Luta pela Esperança". Devido ao extenso período de preparação para esse filme, ele estaria indisponível por cerca de um ano. Mesmo assim, Russell Crowe expressou interesse em aparecer em "Cruzada" em um papel menor e um foi encontrado para ele: o papel do Rei Ricardo. Mas durante as filmagens, ficou claro que ele não conseguiria viajar para outro continente. Esse papel então foi para Ian Glenn. Orlando Bloom, a quem Ridley Scott se voltou depois de perceber que Russell Crowe não estaria disponível para defender Jerusalém, inicialmente recusou o papel. Bloom havia acabado de terminar de filmar "Troia". Ao ouvir de seu agente sobre outro filme histórico, inicialmente resistiu, mas mudou de ideia depois de receber uma ligação de Ridley Scott. Mais tarde, Bloom afirmaria que não foi informado sobre o diretor do filme, portanto, assim que ele soube que Ridley Scott estava envolvido em "Cruzada", ele estava disposto a assinar qualquer contrato.

As filmagens ocorreram em Marrocos por quatro meses e foram as maiores já realizadas no país em termos de escala. O rei de Marrocos, a pedido de Sir Ridley Scott, disponibilizou cerca de 1500 militares para a equipe de filmagem, que retrataram os exércitos cristãos e muçulmanos no filme. Outro mês de filmagens ocorreu na Espanha, onde uma vila inteira foi construída para que Orlando Bloom pudesse interpretar um ferreiro habilidoso. Foi durante as filmagens na Espanha que Liam Neeson se juntou ao filme. Como ele não se preparou para o papel e entrou em "Cruzada" de última hora, ele não sabia nada sobre as cruzadas e estava constantemente fazendo perguntas a Ridley Scott. Quando Ridley ficou cansado disso, deram a Liam Neeson um livro de autoria de Paul Williams. Neeson mais tarde chamou esse livro de muito informativo.

Após a conclusão das filmagens, Ridley Scott apresentou ao estúdio um filme que tinha uma duração de 3 horas e 20 minutos. Ao examinar essa versão, os executivos do estúdio pediram a Scott para reduzir o filme para uma duração mais aceitável de 2 horas e 20 minutos. Ridley resistiu por um tempo, mas testes de audiência organizados pelo estúdio o convenceram. Ele concordou em encurtar o filme, mas estabeleceu uma condição: ele se distanciaria publicamente da versão teatral após a estreia e teria envolvimento mínimo na promoção do filme. Enquanto Ridley Scott se distanciava do filme, o estúdio 20th Century Fox o promovia como um filme de ação histórico com elementos românticos. Posteriormente, o diretor enfatizou que "Cruzada" era um épico histórico sobre conflito religioso e não um filme de ação. A maioria dos críticos e espectadores, após a estreia, observou que o filme parecia incompleto e fragmentado, e isso afetou as avaliações atribuídas ao filme. Ele recebeu críticas bastante medianas quando foi lançado nos cinemas em maio de 2005. "Cruzada", com um orçamento de 130 milhões de dólares, arrecadou apenas 211 milhões nas bilheterias. Muitos analistas acreditam que o estúdio também prejudicou os números de bilheteria do filme ao lançar outro seu filme, "Star Wars Episódio 3: A Vingança do Sith", apenas duas semanas após "Cruzada". Embora haja alguma verdade nisso, não se trata do valor que teria ajudado "Cruzada" a se pagar completamente. Após algum tempo, o estúdio reconheceu seu erro e ofereceu a Scott a oportunidade de criar uma versão do diretor. Esta versão acabou sendo apenas 10 minutos mais curta que a versão original que Ridley Scott havia apresentado ao estúdio imediatamente após as filmagens.

Para o estúdio 20th Century Fox, "Cruzada" não foi um fracasso tão grande. Afinal, considerando os incentivos fiscais obtidos no Marrocos e na Espanha, o orçamento final do filme foi de apenas 11 milhões de dólares. E a versão do diretor lançada em DVD pela empresa arrecadou mais de 50 milhões de dólares apenas no mercado norte-americano. Por isso, o relacionamento comercial entre o estúdio e o diretor não foi abalado por esse fracasso. Mais tarde, Ridley Scott dirigiria vários outros filmes sob a asa do estúdio, como "Perdido em Marte" e "Prometheus", que se tornariam grandes sucessos. Ou seja, enquanto ele teve uma briga prolongada com a Warner Bros devido a "Blade Runner", que foi encurtado pelo estúdio, aqui Scott estava parcialmente de acordo que um filme tão longo teria sido difícil para o público suportar nos cinemas. No entanto, se o fiasco de "Cruzada" não causou grandes problemas ao estúdio Fox e a Ridley Scott, ele infligiu um golpe devastador ao gênero de filmes históricos de grande orçamento. Grandes estúdios de Hollywood começaram a cancelar projetos semelhantes um após o outro. Um dos afetados foi Vin Diesel, cujo projeto dos sonhos "Aníbal" estava quase concluído. O ator teve que retornar apressadamente à franquia "Velozes e Furiosos". Acredita-se que "Cruzada" tenha sido uma virada na carreira de Sir Ridley Scott.

Ridley Scott e o roteirista William Monahan afirmam que o personagem Sem Nome, interpretado por David Thewlis, é na verdade um anjo enviado por Deus. Isso não é insinuado na versão teatral, mas há dois momentos na versão do diretor que sugerem isso: um deles é quando o personagem de Thewlis literalmente desaparece após uma conversa com Balian; o segundo momento é o ressurgimento de Balian após ser ferido por três assassinos enviados. Após trabalhar neste filme, discussões sobre o criador começaram a surgir cada vez mais na mente do diretor.